In Logistics

Desde 2010, o comércio eletrônico transfronteiriço vem crescendo de forma expressiva, principalmente em razão da ampliação do acesso à internet possibilitada pelo uso generalizado de smartphones. A grande democratização do acesso à internet no mundo inteiro impulsionou o crescimento do comércio eletrônico – inclusive o transfronteiriço – em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, como o Brasil.

O comércio eletrônico transfronteiriço constitui uma complexa relação comercial internacional e, como tal, tem alguns pilares que viabilizam sua existência, operação e crescimento. Por exemplo: os produtos devem ser adaptados às necessidades dos clientes nos países consumidores, as campanhas de marketing devem entender o perfil dos consumidores, os meios financeiros disponíveis para efetuar e receber pagamentos pela comercialização de bens e serviços, as leis de importação e respectivos impostos, os hábitos de consumo de cada país e, por último, mas não menos importante, a logística necessária para permitir essa atividade comercial – o que, como evidenciado pela pandemia de Covid-19, é o pilar mais sensível do comércio internacional. De acordo com a consultoria Accenture, a logística é a principal barreira à viabilidade do comércio eletrônico transfronteiriço, ao passo que, para os consumidores, a entrega é a maior preocupação ao fazer compras em plataformas internacionais.

Com cerca de 210 milhões de habitantes, o Brasil é um dos mercados mais importantes para grandes marketplaces globais e, segundo pesquisa realizada pela Ebit e publicada no relatório Webshoppers, 68% das pessoas que fizeram compras na internet em 2021 afirmaram que também compraram em plataformas internacionais. Os sites que os brasileiros mais acessam para fazer compras on-line são AliExpress, Wish, Amazon Gearbest e eBay, de acordo com o Relatório Neotrust de 2020. Além disso, um estudo realizado pela Ebit/Nielsen e publicado pelo Bank of America mostrou que o valor bruto das mercadorias transfronteiriças no Brasil é estimado em US$ 4,8 bilhões, ou cerca de 21% do volume total do comércio eletrônico no país.


Como os brasileiros fazem compras on-line

Como os brasileiros fazem compras on-line

Um infográfico detalhando os produtos que eles mais compram via comércio eletrônico, seus métodos de pagamento preferidos, projeções de crescimento e muito mais


A logística do comércio eletrônico transfronteiriço no Brasil

O fluxo logístico dessas transações internacionais envolve várias etapas: armazém do fornecedor, armazém no exterior, porto de origem, transporte internacional, porto de destino, centro aduaneiro, centro de distribuição nacional e loja/cliente. Grandes plataformas como AliExpress, Amazon e Wish têm operações logísticas robustas que envolvem diversos parceiros terceirizados e operações próprias – o grupo Alibaba (dono do AliExpress), por exemplo, tem seu próprio braço logístico, a Cainiao. Em 2014, os Correios e o AliExpress firmaram uma parceria para estreitar a relação comercial entre o Brasil e a China, como relatou a Ti Insight.

Devido ao período do transporte internacional, somado ao tempo de todos os procedimentos internos de liberação das mercadorias e sua distribuição pelos Correios, as compras transfronteiriças têm um prazo de entrega longo, e esse é um dos principais fatores que levam alguns consumidores a não optar por essa modalidade. Dessa forma, grandes players têm investido cada vez mais na otimização da sua operação logística: o portal Infomoney revelou que, em 2021 o AliExpress investiu em um sistema logístico próprio que consiste no fretamento de quatro voos semanais da China para o Brasil. Além disso, quando o cliente escolhe o método de envio “AliExpress Direct”, a Cainiao identifica diferentes compras do usuário e as reúne em um único pacote nos centros de distribuição, integrando vendedores em diversos países para melhorar a experiência do cliente.

O prazo de entrega varia de acordo com o método de envio escolhido no site do vendedor: por exemplo, simulando uma compra hoje de um produto eletrônico de R$ 75, a plataforma oferece uma opção de frete grátis via AliExpress Standard Shipping (operado pela Cainiao no trecho internacional e pelos Correios no Brasil) com prazo de entrega estimado de 38 dias. Por outro lado, existe também a opção de frete por transportadora expressa (DHL) com prazo estimado de 12 dias, mas o custo do envio sobe para R$ 531 (mais de sete vezes o valor do produto).

Quando chegam ao Brasil, as mercadorias são encaminhadas para os postos alfandegários da Receita Federal antes de entrar formalmente no país. Esses centros estão localizados em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, e as mercadorias são distribuídas entre eles de acordo com as características do produto. Atualmente, Curitiba é o principal polo, recebendo mais de 300 mil pacotes por dia, de acordo com o veículo The Paypers. Na chegada, as mercadorias passam por uma série de inspeções antes de serem liberadas para entrega, o que inclui desde o uso de aparelhos de raio-x até a verificação da nota fiscal ou fatura e da declaração de conteúdo.

Os Correios atuam junto à Receita Federal no despacho aduaneiro de mercadorias importadas com base no Regime de Tributação Simplificada (RTS) para mercadorias internacionais cujo valor aduaneiro (valor do produto + valor do frete + valor do seguro) seja de até US$ 3.000, mediante o pagamento dos impostos de importação (60%) e do ICMS (dependendo do estado de destino da mercadoria). Além disso, os Correios instituíram o chamado “despacho postal”, uma taxa cobrada pelos serviços de despacho aduaneiro de encomendas internacionais importadas que o consumidor final deve pagar para que os Correios liberem a mercadoria para entrega. Apesar de todas as regras, a Receita Federal não consegue fiscalizar todos os produtos que chegam à alfândega, de modo que alguns passam sem serem tributados. Em 2020, as auditores federais auditaram apenas 2,6% de todas as remessas postais transfronteiriças e mais de 90% das remessas auditadas foram posteriormente obrigadas a pagar impostos, como mostra a Labs. Segundo uma matéria do UOL, muitas vezes o critério para fiscalizar ou não a mercadoria é o tamanho e o peso da caixa.

Para mercadorias com valor aduaneiro superior a US$ 3.000, os Correios realizam apenas o transporte. Nesse caso, o destinatário precisa contratar despachante próprio para que sejam providenciados o desembaraço aduaneiro e o pagamento dos demais tributos, como o Imposto de Importação, Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e PIS/Cofins Importação, além do ICMS do estado de destino.

Um estudo da Statista mostra que os Correios são o principal serviço de entrega do Brasil, com 51% de participação de mercado, considerando tanto o comércio eletrônico transfronteiriço como o local. Em seguida, vêm a TNT e a Total Express, ambas com 6% de participação de mercado, a Directlog (3%), a Jadlog (3%) e a Gollog (2%).


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Aumento dos custos de envio

Embora algumas empresas transportem as encomendas por via aérea para melhorar a experiência do cliente, um estudo do Fundo Monetário Internacional mostra que mais de 80% das mercadorias comercializadas no mundo são enviadas pelo mar, e o choque causado pela pandemia deixou claro a importância fundamental do comércio marítimo de contêineres para a economia mundial. Como resultado dos desafios impostos pela pandemia, o custo de envio de um contêiner aumentou sete vezes nos 18 meses seguintes a março de 2020, impactando diretamente nos preços finais dos produtos – sobretudo mercadorias tributadas, já que o valor do frete é considerado no cálculo do valor aduaneiro, que é a base da tributação.

Além do transporte marítimo, as consequências da pandemia de Covid-19 e a alta nos preços dos combustíveis também elevaram os preços do frete aéreo. Não bastasse tudo isso, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia também afetou o espaço aéreo da região e, consequentemente, a operação de voos.

O lado positivo

Todas essas consequências se somam e impactam no valor final dos produtos adquiridos no comércio eletrônico transfronteiriço. Ainda assim, porém, o relatório de resultados trimestrais do Alibaba mostra que o comércio eletrônico internacional de varejo registrou crescimento anual de 24%. Isso indica que, apesar de todos os problemas observados nos últimos anos, o comércio eletrônico transfronteiriço continua a crescer de forma robusta, e a necessidade de contar com parceiros e especialistas que saibam estruturar e conduzir as operações é cada vez mais evidente.


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